quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O comerciante

Vendo um sonho
Não por dinheiro, nem por luxuria
Nem por favores nem por frescuras
Vendo por coisas simples e felizes
Vendo por meras noites livres

Vendo um sonho
E não quero tais trocas bestas
Vendo por um beijo
Vendo por um sorriso de menina
Vendo por um objeto abstrato
Vendo por um momento de amasso

E vendo os meus sonhos por tristezas
Aquelas, que nos fazem viver besteiras
Vendo por ódio
Vendo por coisas más
Menos por hipocrisia

Vendo um sonho que não vale muito
Que apareceu em uma noite
E se foi em um dia
Como qualquer ferida
Que cicatriza com uma cura

Vendo meus sonhos por coisas reais
Não quero simples mortais
Desejo vende-los por coisas que ninguém sem importa
Como um passarinho voando na porta
E o assobio de um canário a vista

Vendo por Acasos
Vendo por beijos e abraços
E não quero retorno
Vendo e não volto mais a sonha-lo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cidadão sem Documento

Antes de nascer, eu já tinha morrido
Numa agonizante noite de sorriso
Em uma festa de nenhuma gente
Em um consultorio de medico doente

Antes de crescer, eu já tinha envelhecido
Vi as rugas em minha pele num olhar liso
Senti minha voz engrossar num toque fino
olhei meus olhos cegos de adivinho

Antes de namorar eu já tinha me separado
Marquei um encontro atrasado
Corri em curtos passos
E com vontade, eu ja estava cansado

E antes de trabalhar, eu ja fui demitido
Até por que, quem agrada, não é bem vindo
E sem razão, a logica existe
E sem dinheiro, gasto tolices

Antes de voltar, eu ja tava indo
Me atrasei, e cheguei bem cedo
Não percebi, mas no meu caso
Sou um mais um cidadão sem documento

E antes de fumar eu já tragava
E antes de beber, eu já mijava
E antes de acordar, eu já dormia
E antes de você chegar, eu já partia

Com vontade, de desgosto eu fazia
Na minha vida, uma morte ocorria
E na minha frente, de costas o corpo estava
Era um cara legal, mais sempre incomodava

Antes de voltar, eu ja tava indo
Me atrasei, e cheguei bem cedo
Não percebi, mas no meu caso
Sou um mais um cidadão sem documento

E antes de me separar, outro amor surgia
Perfurou meu corpo curando minhas feridas
Beijou-me sem tocar os lábios
Gemeu sem dar nenhum chiado

Antes de envelhecer eu já tinha crescido
Sem bem enlouquecer, fugi do hospício
Sem nem me conhecer, me privei dos vícios
E antes de ser livre, já fui detido

E antes de morrer, eu já tinha nascido
Numa noite escura onde o sol batia doido
Numa cama dura onde tudo estava amolecido
E entrava na terra morto, saindo do ventre vivo

Antes de voltar, eu ja tava indo
Me atrasei, e cheguei bem cedo
Não percebi, mas no meu caso
Sou um mais um cidadão sem documento
Edelvan Menezes

domingo, 18 de setembro de 2011

Pura poesia

Como é bela tuas palavras nuas
Sobre as mãos quentes na sua nuca
Sílaba por sílaba num compasso solto
Arrepio por arrepio, num sentido torto

Acalmo-me, horas sem impasse
Vejo com a boca suas linhas e frases
E aproveito o som da sua pele
Pra esquentar mais ainda essa febre

Que horas...
Lendo um corpo complexo
Em simples pensamentos desconexos
Viajo em sensações de outrora

E cabe a isso tudo torna-se junto
Em movimentos de alegria
Que é pura poesia
Em desejos de dois loucos

Vem, e faça desse quadrado os nossos sentidos
Faça dessa ideia uma volta com muitos giros
E não desça das nuvens, sem antes sentir seu toque macio

Acabo com outros pensamentos
Que nada mais justo, são seus
Que nada mais claro, são meus
Que nada mais real, são nossos.

domingo, 11 de setembro de 2011

Abrigo da noite

A luz da lua que ilumina nosso lugar
Passou...
E entre fases de impasses, digo as frases do meu amor
Minguante, dançante, alucina os amantes

flor da noite, deixe suas pétalas claras
Pois a escuridão em ti que exala
O perfume que deixa nós, o fundo do nada
Aproveita o momento de visão fechada

Mais não esqueço, que tudo que vejo, e a tal amada
De virada, que caem em em estradas duras de alegria
E viver, sabendo que depois de algum dia, o viver da minha vida
Se desfaz do nada

Luz da lua de lugar fechado
Sobre salto de um comunicado
Esquece que, sobre os olhares do amado
Estão todos os caminhos perdidos

Ô pensamento perdido
Que de tanto amigo, falhou na agonia
Mereceu o que não fez, por aprender de vez
Que não deve ter sabedoria

Mas não se iluda a tal meninice
Segure os medos
Cure os devaneios
E seja lá o que Deus duvida

domingo, 4 de setembro de 2011

Les femmes, les désirs et les rêves ...

A tarde, sentado, do lado
Em cima de nós a sombra do telhado
O sol espionava com um olhar amarelo
Todo a nossa loucura ao vento

A espera não demorou
Peguei uma flor e disse de dia "Noite!"
Peguei sua noite e disse "Dia!"
Mergulhei tudo no mar da alegria

Como fervia teus lábios maduros
Sujos de prazer com sabor de delícia
Limpos de aflição
Em sua mente, pouca exatidão

Mas em sua mente, a imprecisão, a distorção
Mente quando se diz não
Mente na maior perdição
Mente que a mente falha em vão

Pensamentos sinceros, mentiras discretas
Caíram feito chumbo em água maciça
Feche os olhos, paraíso louco, solto
Apenas olhos, Ísis eu te devoro

Ligações  em tempo real
Leais ao nosso calor
Onde a pele aclama moldura
Tens todo o formato de uma bela pintura

sábado, 3 de setembro de 2011

Cômico do crônico

Aos 12 anos me levaram ao doutor
Com suspeitas de uma forte enfermidade
O medico logo anunciou
Eu era um poeta de verdade

O prognóstico causou receio
Eu via rimas, letras, desejos
A minha maria só chorava
E com as águas, meu verso entoava

De crises em crises, minha família aceitou
E eu, indefeso por não saber o que passava
Escrevia trovas, sonetos e recitadas
E ao longo do tempo, meu caráter encapotou

A minha casa de quatro paredes não era quadrada
E observava bem essas formas abstratas
Fazia da luz uma palavra
Fazia de tudo, um simplesmente recanto do nada

Aos 18 anos resolvi me tratar
Tomava pilulas de dignidade
Me viciei em tanto pensar
E minha alma, mal saia do lugar

Me tornei um vagabundo
A fazer poemas nesse largo mundo
Sendo um humano verdadeiro, sem escrúpulos
Fiquei conhecido como o poeta do mundo

Edelvan Menezes

Incógnita

Prazer, eu sou o não
E não me venham com tais idiotices
Não tolero todas as tolices
E não me rebaixo diante do chão

Sirvo para limitar o seu caminho
Impedindo assuntos de certos destinos
Desviando as linhas do absurdo
E que se dane, me divirto sozinho

Minha morada é a vida
E não quero caídas
Cuide-se para não me perder de vista
Pois sou necessário na hora em que você mais precisa

Não quero sonhos, tão pouco pesadelos
A necessidade só depende dos apelos
A sociedade vive com seus desejos
E eu com essa inutilidade de terminar isso com "os"

Eu não sou, o não sou eu
Enterrado no ar de valquíria
Cuja gaivota sem asas grita
Tentando voar, ignorando o não

Não me ignore bando de idiotas
Sou o não, vivo de competências
E suas incompetências 
As iludam como gostas
Edelvan Menezes