segunda-feira, 25 de abril de 2011

Postumado

Eu morri.
Depois de ter matado o vazio entre mim.


Eu morri.
No mais doloroso morrer,
que sem injuria
não me fez crescer.


Eu morri.
E depois da morte causada por mim,
vivi momentos de nada
com um vazio sem graça,
que nem a graça sustentou
ao cair em cima do meu sorrir.


Eu morri.
E dentro do caixote quadrado e apertado,
me vi sem ar, sem ninguém e abandonado
apenas uma barata tonta sem direção a seguir.


Eu morri quando vi seus olhos em conjunto com sua boca
misturado com seus gestos de princesa incandescente 
em lua nova me dizerem: Tenho nojo.


Eu morri ao perceber que só vinha a perceber agora
que eu deveria perceber desde o começo 
que o desprezo era uma criança enciumada
pela verdade que o traga esperança e medo.


Eu morri com os olhos abertos, 
sem realmente um teto
com luzes amarelas de sonhos quietos 
num mero e simples pote singelo.


Pote da vergonha,
jogarei fora o meu passado (mais uma vez)
jogarei fora os papeis de pensamentos
que vieram com o vento
sem aurora ou madrugada.


Eu morri.
no mais fúnebre pensamento
com a esperança de um momento
você vir me salvar.


Mas quieto estou.
Não fumo, nem bebo, nem respiro.
Os prazeres acabaram na mais total falta de vergonha,
que com a insônia, 
não deitava e maltratava o corpo vazio.


Vazio, que no mais arrepio de pele levantada,
feito carne emputrefada
no caldo de um complexo rio.


Frio, que no inverno me esquenta e no verão me atormenta,
como as folhas caindo no colo de uma freira
que rezou numa sexta-feira 
para minha morte já ir vindo.


Na verdade, sofro sozinho.
no mais vislumbre sorriso de vela envenenada
como beijo da amada 
nos meus sonhos mais sombrios.


Queria eu ressuscitar assim,
como cristo encruzilhado
num livro abandonado
de folhas sem fim.


Mas não me esqueço, eu morri.
e como sonho de menino,
de ser feliz, viver sorrindo
e brincar o dia inteiro
sem se preocupar com seu futuro e destino.


Morto numa cova bípede,
que anda livre entre os humanos
fingindo ser humano
para afogar os meus deslizes.


Tonto, desvio atenção do ódio
no mais sensível ócio 
de inutilmente não ficar dócil
e empurrar os outros no abismo.


Basta! O amor não faz sentido.
Se estou julgado a cometer póstumos atos
de fantasma assombrado
assombrando o seu caminho.


E assim, crio à janela para a fuga
desse mundo tão profundo
onde o escuro consome tudo
que o claro tem como amigo.


Mas não consigo,
minhas pernas já se decomporão
com o passar dos séculos que venho me esvaindo.


Portanto, lhe chamo pra minha missa
que ai de rezar um dia,
onde minha alma de agonia
ira gritar com a alegria de um vivo,
seja bem vindo.
Edelvan Menezes.

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